O fiscal andava pela rua onde
existiam muitas lojas, e por estar a cidade sob o regime de “bandeira vermelha”,
onde somente o comércio de gêneros de primeiras necessidades poderia estar
aberto, ele fiscalizava se as lojas estavam cumprindo o decreto municipal.
Já estava quase no fim de seu
turno quando enxerga uma loja aberta, e não era de gêneros de primeira
necessidade, pois era de cosméticos.
Assim ele se dirige à loja e
ao entrar se dirige a balconista e já vai dizendo: - Essa loja vai ser multada,
vai ser fechada e lacrada por estar funcionando sem respeitar a bandeira
vermelha! E ela, a balconista, será encaminhada à delegacia para prestar
depoimento.
A balconista lhe informa que é
somente uma funcionária e que não acha justo ser presa por estar trabalhando.
Mas ela vai chamar o proprietário para atender ao fiscal.
O dono do estabelecimento
entra no recinto de venda e pergunta ao fiscal: - Qual o problema? O decreto
não especifica quais são as mercadorias que são consideradas gêneros de
primeira necessidade!
- E o senhor acha que batons,
cremes, perfumes, etc. são de primeira necessidade? Perguntou o fiscal.
- O senhor é casado? Perguntou
ao fiscal o dono da loja.
- Sim, sou. Mas o que tem isso
haver com a infração que o senhor está cometendo? Respondeu o fiscal.
- É simples. Quando você chega
em casa, cansado de um dia de trabalho na rua, o que você prefere? Ver a sua
mulher toda desarrumada, fedendo a suor, pele seca, suja, ou bem arrumada, cheirosa,
maquiada, com um belo batom realçando aqueles lábios que no dia que você a
conheceu, você jurou que iria beijar pelo resto de sua vida?
- É lógico que eu prefiro a
segunda opção!
- E como a sua mulher poderia
estar bela como você gosta se faltasse algum item para ela se arrumar? Se no
meio dessa bandeira vermelha o desodorante dela acabou? E se o batom quebrasse,
o perfume tivesse acabado? Ela teria que vir numa loja dessa! Concorda?
- Sim, por esse ângulo, eu
concordo, mas não é por esse ângulo que as autoridades enxergam.
- Tem algum deles lhe
acompanhando? Eles estão vendo a minha loja aberta? Será que eles, antes de
assinarem o decreto não compraram as necessidades de suas esposas, além, é
claro, de tudo o iriam precisar durante esse fechamento?
- Mas é a lei!
- As leis foram feitas para
serem interpretadas. Pode ser que para eles os cosméticos não sejam de primeiras
necessidades, mas certamente para as suas esposas elas são! Como lhe mostrei,
até você prefere chegar em casa e ver sua mulher como a princesa que você
conheceu, e que certamente hoje ela é a sua rainha!
- O senhor tem razão. Casa um
tem uma perspectiva diferente, dependendo do lado em que enxerga a questão.
- Sim. Recentemente você não
viu uma decisão de um juiz anulando o resultado de um julgamento, ao alegar que
o tribunal que julgou o caso não tinha competência para tal, apesar do
colegiado até ter ratificado a sentença, passando por cima de todas as provas
amealhadas ao processo e ao próprio entendimento do colegiado? Ele fez verdadeiras
ginasticas jurídicas para poder interpretar da forma que ele queria, como se
fosse um advogado da defesa!
- Também concordo com esse
raciocínio. Então o que devo fazer?
- Meu amigo, compre umas
mercadorias para a sua rainha, assim ela não poderá dizer que não se arruma
para você por falta dos cosméticos!
E assim acaba essa pequena
estória que apenas quer demonstrar que, em qualquer situação, existem perspectivas
diferentes, não dependendo somente da imparcialidade.
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